Hoje ao acordar encarámos com um dia chuvoso e frio. Prevíamos que ia ser uma etapa molhada, mas não imaginámos que iríamos passar tanto frio e por tantas dificuldades como passámos.
A etapa começou em San Vigilio, a 1200 metros de altitude, debaixo de chuva torrencial e com 7ºC de temperatura. Começámos logo a subir até aos 2200 metros. Á medida que subíamos a chuva transformou-se em neve, e a subida, em gravilha, a inclinar cada vez mais. No topo da subida faziam cerca de 0ºC. Eu saí para a etapa com roupas apropriadas para o frio. Já o Zé, nem por isso. Levou uma luvas de verão. Enquanto eu senti alguma dificuldade durante a subida, não só pela minha fraca forma física, mas também pela quantidade de roupa que levava. Mas quando começámos a descer, a situação inverteu-se. A descida era algo técnica, sobretudo pela quantidade de pedra solta, e o Zé mal sentia as mãos! Teve muita dificuldade nas duas descidas mais longas da etapa. Além da dificuldade em manobrarmos a bicicleta, também não conseguíamos chegar com as mãos aos bolsos da jersey para tirar comida. Aliás, até para tirar o bidão da bicicleta tínhamos dificuldade! Foi um suplicio! Nas descidas fomos passados por muitas equipas. Imaginámos que estariam mais de 70-80 equipas à nossa frente. Ao km 30, no primeiro abastecimento, vimos uma placa informativa – “20km to finish”. Bendita placa! Se tivéssemos que cumprir os 72km da etapa, não saberíamos como o fazer. Eu não parava de bater o dente, e o Zé só dizia mal da vida porque não sentia as mãos. Acho que até tinha estalactites na ponta do nariz.
Eu contava um a um os quilómetros que faltava para perfazer os 20km. Mas julgava que o corte de 20km na distância da etapa nos deixava na mesma vila que estava inicialmente prevista a chegada da etapa – Alleghe. Tal não é o meu espanto quando chegamos à meta improvisada, e esta estava no meio do nada. E agora, como vamos para Alleghe?! Quantos quilómetros são até lá?! A organização indica-nos então o caminho para Alleghe: “Sigam de bicicleta pela estrada principal. São cerca de 20km até lá”. Xii, gelados e sem energia, ainda tínhamos que fazer mais 20km até ao local onde estava o acampamento e onde a Cristina nos aguardava.
As equipas da frente tinham as respectivas caravanas e carrinhas na meta à espera dos seus atletas para os levar para Alleghe. Nós, e muitos outros tivemos que ir de bicicleta. Quando começámos a percorrer a estrada nacional que nos tinham indicado, subimos mais de 5 quilómetros que nos levaram até ao Col de Gallina, a 2.200 metros. Fazia muito vento e frio. Demorámos mais de 40 minutos a fazer esses 5km. Durante o caminho mal falámos um para o outro, tal era o desgaste que levávamos. Chegado ao cume do Col de Gallina, descemos cerca de 15km, em curvas e contracurvas. Passámos ao lado da Mormelada, uma subida mítica do Giro de Itália.
Terminada a descida, foram ainda mais 5km planos até Alleghe. Feitas as contas, acabámos por fazer os mesmos quilómetros que estavam inicialmente previstos para a etapa. Neste momento temos mais 22km quilómetros que a maioria das equipas que estão à nossa frente na classificação. Por falar em classificação, hoje fizemos 32º. Bem melhor do que imaginámos. Mas hoje nem sequer o Zé queria saber da classificação, só pensávamos mesmo em chegar ao acampamento e tomar um duche de água bem quente e beber algo também bem quente.
Quando chegámos a Alleghe, tínhamos chá quente, cubos de chocolate negro e tartes à nossa espera, mas por outro lado, recebemos a informação que o acompanhamento ficava noutra localidade a 5km. Desta vez fomos de carro.
Quando chegámos ao acampamento tivemos outra surpresa. Estávamos instalados nos balneários…femininos. Por nós, sem stress. Não ficámos incomodados. E como a maioria das atletas, nesta prova, são nórdicas, também não ficaram nada incomodadas. Até porque havia uma porta a separar a zona dos cacifos, onde tínhamos os sacos-cama, da zona dos duches.
Amanhã também não vai ser tarefa fácil. São 74km, com 3200 metros de acumulado. Vamos subir novamente até aos 2200 metros de altitude. O nosso único desejo é que as condições climatéricas sejam mais adequadas à prática do BTT no meio dos Alpes, já que, com as subidas cá nos vamos amanhando.
Agora temos roupa para esfregar.
Até amanhã,
Vitor Gamito
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