Primeira etapa do Transalp concluída. 96,55km, com 2200 metros de subida acumulada, em 4h09. Até parece pouco acumulado, mas se vos disser que este acumulada foi só de 3 subidas, com mais de 10km cada uma delas, já o cenário muda de figura. Por falar em cenário, posso dizê-lo, sem sombra de dúvida, que hoje assisti às paisagens mais belas dos meus 41 anos de vida. Os Alpes austríacos e o lago Ashensee também na Áustria junto a uma localidade com o nome de Perllisau, a cerca de 950 metros de altitude, vão ficar gravados na minha memória para toda a vida. Prometi a mim mesmo, que num futuro próximo voltarei aos Alpes, mas de autocaravana e com a família. Só pela etapa de hoje, já valeu a pena vir ao Transalp. O dia esteve também espectacular. Desde 15ºC na partida até aos 25ºC à chegada, e muito sol.
No aspecto competitivo, fiquei admirado pela confusão da partida. O conceito utilizado nesta prova é muito semelhante ao do que é utilizado nas provas da taça de maratonas nacionais, só que de um modo muito mais desorganizado. Haviam 3 boxes: a primeira em que se posicionavam os vencedores dos anos anteriores e as equipas profissionais, e depois uma segunda e uma terceira boxe. Foi nestas duas que imperou a confusão. Supostamente seria o número do frontal a determinar a boxe de cada equipa, mas como havia apenas um elemento da organização a controlar a entrada na segunda boxe, a determinado momento, começaram a invadir esta boxe. Como o nosso frontal é o 49, avançámos também para a primeira boxe.
Dada a partida, às 10h00, rapidamente conseguimos chegar aos primeiros 10 lugares, mas logo ao inicio da primeira subida, ficou confirmado aquilo que já tinha quase como certo: a minha forma física já teve melhores dias. Zé, eu avisei! Já andava a avisar há algum tempo o meu companheiro Zé Silva, e não só, para não contar com grandes prestações desportivas nesta prova. Mas o Zé pensava que eu andava a fazer bluff. Zé, eu não faço bluff. Desde o Titan Desert que nunca mais consegui me sentir bem. Falta força, as dores musculares são acima da média e mais importante, a vontade e o espírito de sacrifício que é necessário para treinar depois de um dia de trabalho, nunca mais apareceu.
Hoje foi um dia muito complicado, mais do que para mim, foi para o Zé Silva. O Zé é um “cavalo de corrida” que está habituado a andar sempre na frente. Desde que começou a competir em BTT, há cerca de 4 anos, o mesmo número de anos que o treino, nunca passou pelo que foi obrigado a passar hoje. Hoje foi passado por mulheres, veteranos com mais de 50 anos, e até de um atleta com uma prótese numa perna! O Zé, demorou cerca de 50 quilómetros a digerir esta situação. Quase não falava e quando falava era para me dizer: “Bora que isso daqui a pouco melhora”. “Zé, garanto-te que não melhora”, dizia eu. A partir do quilómetro 50, perto do final da segunda montanha, lá tirou o chip de competição, e começou a apreciar a paisagem. Inclusive parou no meio da subida para fazer uma festa a uma vaca. Diga-se de passagem que a vaca era mesmo linda, não era a vaca roxa da Milka, mas estava muito bem tratada, com o pêlo brilhante e bem gordinha. Até tenho a impressão que a vaca olhou para o Zé e sorriu. Bem, se calhar eu já estava com falta de açúcar no sangue, ou então a Heidi que tanto procurei, tinha uma marreta e acertou-me mesmo em cheio.
Bem, vaca para trás, e terminámos a montanha mais longa do dia, que antecedeu uma descida também muito longa e algo perigosa. Com gravilha solta. Assistimos a algumas quedas aparatosas. Nestas descidas com dezenas de quilómetros, as máquinas e sobretudo os travões e discos são levados ao limite.
Depois rolámos uns bons quilómetros em asfalto, mesmo junto ao tal lago lindíssimo, e finalizámos com uma subida de 10km para a meta. Admito que esta já sobejou. Estava farto de subir!
A meta estava numa aldeia também lindíssima, onde estamos também instalados, com vista para os Alpes. Só visto, mesmo!
A organização tinha umas mesas montadas com fruta (melão, bananas e maçãs), barras de cereais (Corn do Lidl J ), e claro: cerveja. Eu bebi logo um caneco. Que bem que soube. Depois disto, é que veio o Fast Recovery, mas numa versão austríaca: com água com gás. Pois, vocês não sabem a dificuldade que é, em arranjar água sem gás, nesta zona!
Depois por curiosidade, fomos ver as classificações. Fizemos 42º nos escalão Elite. Muito melhor do que eu estava à espera! Tendo em conta que íamos a andar em ritmo quase de passeio, tenho a sensação que se eu estivesse ao nível que me apresentei no Titan, ficaríamos nos 10 primeiros. Só por curiosidade, a primeira equipa mista fez 14º na geral.
Amanhã é a etapa mais curta, cerca de 68km, mas uma das mais duras, com 2.900mts de subida acumulada. Vai doer. Mas neste momento o nosso principal objectivo é não cair. O segundo é chegar ao fim, e o terceiro é desfrutar deste ambiente espectacular e das paisagens lindíssimas. Depois disto, se der para subir uns lugares na classificação, não vou dizer que não ;)
Quanto às outras equipas tugas. Pelo que sei correu tudo bem, não houve grandes azares, segue tudo em prova.
Bem, são agora 18h00, já recebemos a massagem da Cristina Ponte, agora é hora da “pasta party”. Até amanhã.
Bem, entretanto como a minha placa Internet estava sem linha, já fui ao pasta party e agora estou no press-office. Posso dizer que estivemos mais de 40 minutos na fila para comer um prato de macarrão com molho de tomate. As bebidas eram a pagar, e salada ou sobremesa…niente! Ok, na desportiva, sem stress. Foi assim para quase todos. Lá tivemos que mandar vir mais dois canecos de cerveja… a 3 euros cada. Se estás na Austria, há que ser Austríaco.
Agora sim, até amanhã.
Vitor Gamito
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