A oitava e última etapa do Transalp 2011 terminou, como é tradição, em Riva del Garda (Itália). Uma pequena cidade lindíssima junto ao enorme Lago de Garda.
Foram 75km com 2.000 metros de acumulado. O inicio da etapa foi debaixo de chuva, mas como não fazia frio e com apenas 2km de etapa iniciámos uma subida de 8km, com pendentes que atingiram os 25% de inclinação, a chuva até não soube muito mal e deu para arrefecer um pouco os motores.
Nesta subida aconteceu algo de caricato, que nos fez perder algum tempo. Por causa do meu historial como ciclista de estrada, habituado a desenvencilhar-me no meio de pelotão com centenas de atletas, nesta prova, com mais facilidade conseguia avançar para a frente da corrida nos inícios das etapas. Como as etapas começavam quase todas em subida , o Zé, mais rápido que eu, apanhava-me sempre minutos depois. Só que ontem a coisa não funcionou bem. Com 2 km de etapa e metros antes do inicio da primeira subida, eu já tinha chegado à cabeça do primeiro pelotão, mesmo ao lado da equipa líder. Depois a subida começou, e logo com rampas de 25% de inclinação, e eu então comecei a descair lentamente, deixando passar lentamente os participantes até o Zé me apanhar. O problema é que o Zé vinha um bom bocado mais atrás e ainda por cima ficou bloqueado à entrada da subida porque tinha saltado a corrente a um atleta à sua frente. Passados uns 3 km de subida, comecei a achar estranho o Zé ainda não me ter apanhado. E o Zé a achar também estranho ainda não me ter alcançado, até porque ele já tinha passado por algumas equipas que costumam ser nossas colegas de grupeto, nomeadamente a equipa mista Rocky Mountain, líder desta categoria. Só que eu nesse dia tinha entrado muito bem colocado na subida e também estava-me a sentir melhor. Resolvi então parar uns minutos a meio da subida, pois pensei que o Zé poderia ter tido algum problema. Acabei até por voltar para trás. Por outro lado o Zé tinha resolvido também voltar para trás, pois pensou que tivesse passado por mim sem dar conta! Resultado: estivemos mais de 5 minutos na subida à procura um do outro! Entretanto o Zé chegou vindo de trás e a dizer que já tinha feito o inicio da subida algumas vezes à minha procura. Enfim!
Lá seguimos nós, em bom ritmo. Faltavam ainda uns 4km para terminar essa subida mais dura. Fomos passando por várias equipas, mas não foi tarefa fácil, pois os trilhos eram muito apertados e muitas vezes apanhámos atletas a levar a bicicleta à mão.
Mas finalmente, por volta do quilómetro 40 apanhámos o grupo onde seguia a equipa mista Rocky Mountain, que era a nossa referência. Na segunda montanha, com cerca de 5km, em asfalto - fez-nos lembrar a Serra da Arrábida – colocámos um ritmo forte e fomos embora a esse grupo. Os últimos 15-18 km eram em ciclovias em asalto, até Riva del Garda. Aí o Zé Silva puxou dos seus galões, colocou a sua KTM em velocidade de cruzeiro de 40-44km/h e fomos assim até á meta. Eu limitava-me a tomar atenção às placas de direcção e avisava o Zé. Ele ia de tal maneira concentrado que nem via as placas. Fomos apanhando vários atletas e todos se colocavam na roda, ninguém se atrevia a ajudar.
Nesse dia fizemos a melhor classificação em etapas - 18º. Se não fosse aquela descoordenação na primeira subida, podíamos ambicionar a uma melhor classificação na etapa e até na geral.
O Craft Bike Transalp chegou ao fim. Foi a minha segunda aventura em BTT por etapas de nível internacional, e a primeira para o Zé.
Foi uma experiência muito diferente do Titan Desert de há 2 meses atrás.
O Transalp tem um nível de exigência físico muito superior ao do Titan. Mas por outro lado, e apesar de não ser perfeito, tem melhores condições para os atletas poderem recuperar. Ao nível da higiene, alimentação, e dos alojamentos. Também é mais acessível a nível financeiro.
Se eu disse que não voltaria a repetir um Titan Desert, apesar de ter gostado da experiência, já o Transalp seria capaz de repeti-lo. Mas teria que ser em melhores condições físicas e psíquicas, pois é uma prova que se adapta perfeitamente aos meus gostos e às minhas características como ciclista. Subidas longas e descidas rápidas com alguma técnica. Just the way I like it :)
Tenho a sensação que com, um treino adequado, uma boa estrutura de apoio, nomeadamente mecânico, e optar por dormir em hotéis, poderíamos ambicionar ao Top-5.
Os três aspectos que me deixou mais impressionado:
1ª A beleza da Áustria: Os Alpes, a arquitectura, os lagos, os castelos,… Definitivamente, quero voltar a este país com a família;
2ª A grande quantidade de mulheres a participar no Transalp;
3ª O profissionalismo de algumas equipas que estavam a discutir os primeiros lugares nesta prova. Grande quantidade de staff, várias viaturas de apoio que ficavam distribuídas por inúmeros pontos do percurso, auto-caravanas enormes, viaturas oficina, várias bicicletas para cada atletas, …
O que vai ficar mais marcado na minha memória: a beleza dos Alpes vista de dentro.
Recomendo vivamente :)
Termino por agradecer os vários apoios que este projecto recebeu e o tornaram possível:
- Garmin Portugal – Por nos ter conseguido as inscrições, os GPS Garmin Edge 800 para as bikes e o Garmin Nuvi para a viatura que nos deu assistência em prova;
- GoldNutrition – que tratou das nossas passagens aéreas, assim como de toda a suplementação fundamental para este tipo de provas. Para além dos já habituais Goldrink Premium, Fast Recovery, Extreme Gel e Extreme Bar, se não fosse o Muscle Repair, o ZMA e o SAFE, os nossos músculos e sobretudo joelhos, não teriam aguentado os mais de 650km e 21 mil metros de subidas acumuladas, sob dias de calor, outros de frio e neve e de chuva:
- LPA – Solutions for your future – Empresa nacional de metalúrgica, que à última da hora entrou financeiramente no projecto e viabilizou esta nossa aventura;
- Fullwear – marca de roupa desportiva, que já me acompanha há 4 anos, e nos equipou com o que de melhor se faz em Portugal;
- Cristina Ponte – Massagista que embarcou connosco nesta aventura. Para além de massagista, foi directora desportiva, motorista e mais importante, amiga;
- Aktive – Lojas de desporto, já era patrocinadora do Zé Silva, mas que de imediato se prontificou a apoiar este projecto;
- A nível mais pessoal quero agradecer também à Maxxis, pois por incrível que pareça, os mesmos pneus que utilizei no Titan Desert da primeira à ultima etapa (e sem furos) foram os mesmos que levei para as 8 etapas do Transalp e também sem um único furo! Quais são eles? Maxxis CrossMark 2.1 LUST (tubeless). Um pneu para todo o tipo de terreno e condições. Nunca foi grande especialista em descidas técnicas, mas com estes pneus nunca me deixaram para trás neste Transalp.
Agradeço também à BikeZone, por me disponibilizar a Cannondale Flash Ultimate, os óleos MucOff, e os acessórios Topeak.
Deixo para último o agradecimento mais importante: à minha esposa e aos meus filhos, por pela segunda vez num espaço de 2 meses terem prescindido da minha presença, e me permitirem fazer aquilo que é uma das minhas paixões – participar em eventos de bicicletas.
Até à minha próxima aventura, possivelmente com outra denominação,
Vitor Gamito