segunda-feira, 18 de julho de 2011

Craft Bike Transalp - 3ª Etapa - "É como ir ao Porto e não comer Francesinha"

Esta noite ficámos num pavilhão com mais 200 atletas. Até aqui tudo normal. Mas se disser que só havia 4 duches, um lavabo e um sanitário para esta gente toda, tanto para homens como para mulheres, já a coisa muda de figura. O “truque” para não encararmos com uma fila enorme logo pela manhã é deitar bem cedo, cerca das 21h30 e acordar antes de todos os outros. Ás 5h20 da matina já estávamos a correr para os lavabos, e às 6h00 na porta do restaurante onde seria servido o pequeno-almoço. É interessante ver que cada dia que passa o pessoal levanta-se mais tarde. Porque será? :)
Hoje o dia acordou com um aspecto completamente diferente dos anteriores. A chuva, o frio e a neve esperavam por nós. Felizmente vim preparado para todas as condições climatéricas. Eu dou-me muito mal com o frio e se nesta prova estivesse a disputar alguma classificação de relevância ficaria muito chateado com as condições climatéricas de hoje. Mas como não é o caso, até acabou por ser divertido. Vir aos Alpes e não andar na neve será como ir ao Porto e não comer uma Francesinha. Mesmo que não se goste :)

A etapa de hoje tinha 94km, com inicio em Mayrhofen (Austria) e meta em Brixen (Itália). Com 2.200 metros de subida acumulada, era considerada das mais fáceis. Apenas com uma subida inicial de 27km, seguida de uma descida de uns 15km e o resto da etapa praticamente a rolar e com muito asfalto. A história de hoje esteve quase toda ela centrada na subida. A primeira metade em estrada de asfalto, mas com a chuva a cair copiosamente e a segunda metade por caminhos de montanha, em que a chuva foi substituída por neve. O cenário era lindíssimo! Um carreiro de betetistas, a serpentear montanha acima sobre um manto branco. Os últimos 3-4 km tiveram que ser feitos a pé, pela quantidade de pedra e de gelo que havia. Demorámos cerca de 30-40 minutos a fazer esse percurso a pé. Até desfiz as capas dos sapatos. Houve um momento num trilho mais ciclável, que tentei encaixar os sapatos nos pedais e não conseguia. Não entendia porquê. Primeiro pensei que fossem as capas dos sapatos, depois a lama. Mas nem uma coisa nem outra. Era gelo! Tinha uma capa de gelo por debaixo dos sapatos. Para conseguir retirar esse gelo tive que bater com uma pedra nos sapatos. Aproveitei a paragem para trocar de luvas, pois já não sentia os dedos. Tive a feliz ideia de levar um segundo par de luvas.

Já bem próximo do final da subida, a cerca de 2.200 metros de altitude, demos de frente com dezenas de vacas. Algumas teimavam em não sair do nosso trilho. Tivemos quase que pedir por favor. Nesse momento pensei: “Com este frio estas vacas não devem dar leite. O mais certo é darem sundaes”. Como fiquei com inveja do Zé Silva, que na primeira etapa fez festas a uma vaca, hoje parei eu e fiz o mesmo, com o bónus de uma outra ter-se aproximado para receber também festas.
Até ao topo parámos mais algumas vezes para admirar a paisagem. Sobretudo olhar para baixo e ver o carreiro de ciclistas a subir até ao local onde me encontrava. Lindo!
Feita a parte mais interessante da etapa, seguiu-se a descida para Itália. Não era perigosa, pois era muito suave e não havia neve.
Depois vieram os largos quilómetros em ciclovias asfaltadas e alguns single-tracks no meio da mata.
A titulo de curiosidade demorámos tanto tempo a fazer os primeiros 30 quilómetros, como os restantes 64km da etapa. Duas horas.
No final tínhamos umas belas sandes de presunto. Acompanhado de Fast Recovery caiu que nem ... sandes de presunto com Fast Recovery ;)

Hoje fizemos 38º, melhorámos 3 lugares em relação a ontem. Eu já  avisei o Zé que o combinado era melhorar um lugar por dia, e não 3.
Ultrapassada a etapa de transição, amanhã espera-nos 73km com 3.500 metros de subida acumulada. Uiii! Vai doer.

Hoje há que aproveitar ao máximo para descansar. Num pavilhão com 300 atletas?! Não vai ser tarefa fácil! Assim como não vai ser fácil a roupa da etapa de hoje que temos para lavar.

ADENDA: Estava a esquecer de contar - esta noite houve um atleta que foi "convidado" a transferir o seu saco-cama para a casa de banho. Tal era o roncar do homem que não deixava dormir ninguém. De manhã ia tropeçando neste senhor que dormia como um santinho no meu do WC. LOl.

Até amanhã,
Vitor Gamito

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